Dr. Luciano Wolf Fedrizzi

Discinesia da escápula (escápula alada)

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Discinesia da escápula (escápula alada)

O que é a discinésia da escápula (escápula alada)?

A escápula faz a principal conexão e transmissão de energia entre o tronco e a cintura escapular e serve de base para a origem e inserção de diversos músculos. Além dos músculos, sua única conexão com o tronco é feita através da clavícula. Por isso, alterações da clavícula ou das articulações acromioclaviculares e esternoclaviculares podem repercutir na movimentação da escápula.

A discinesia da escápula é a alteração dos movimentos normais da escápula, originado por diferentes causas. A simples alteração do movimento, independente da causa é chamada de discinesia da escápula. O termo escápula alada é mais antigo e, hoje, representa as alterações mais graves da escápula, causadas, em geral, por lesões de nervos específicos.

A discinesia é uma doença que vem sendo estudada mais recentemente, principalmente após os estudos publicados por Ben Kibler, um estudioso no assunto. Alterações no movimento da escápula provavelmente são mais frequentes do que o relatado na literatura médica, pois muitos casos são subdiagnosticados, principalmente pelo falta de conhecimento no assunto.

Quais as causas de discinesia da escápula?

Existem diversas causas para a alteração dos movimentos da escápula e que podem ser diagnosticadas clinicamente ou por exames de imagem.

Desequilíbrio muscular (funcional)

É a causa mais mais comum de discinesia da escápula.

  • Existem 3 músculos principais para estabilizar a escápula, que são: serrátil anterior, porção superior do trapézio e porção inferior do trapézio.

  • O desequilíbrio muscular mais comum ocorre por fraqueza do músculo serrátil anterior e pela porção inferior do trapézio, associado também a contratura muscular da porção superior do trapézio e do peitoral menor. A falta de exercícios para os musculos acima e os vícios posturais são a principal causa desse desequilíbrio.

  • O seu diagnóstico é feito pelo exame físico. Exames subsídiarios podem ser necessários para excluir outras causas.

DISCINESIA DA ESCÁPULA POR DESEQUILÍBRIO MUSCULAR

Lesões neurológicas

São causas relativamente raras de discinesia da escápula, porém provocam alterações mais graves e pronunciadas.

1) Lesão do nervo torácico longo

  • Causa perda da função do músculo serrátil anterior

  • Causado por traumas leves ou repetitivos, uso de muletas e eventualmente traumas cervicais. Em muitos casos não há definição da causa, sendo descrito mais recentemente a origem por possível síndrome compressiva.

2) Lesão do nervo espinal acessório

  • É um nervo em risco durante cirurgias cervicais ou até mesmo biópsia de linfonodos na região mais baixa do pescoço.

  • Sua lesão causa perda da função do músculo trapézio. Dependendo do grau de lesão, podem haver diferentes graus de perda da função do músculo.

3) Distrofia facioescapuloumeral

  • É uma doença neuromuscular, que acomete pacientes jovens e causa alterações do movimento da escápula de maneira bem acentuada, com alterações em toda cintura escapular

  • O seu diagnóstico deve ser realizado por um médico neurologista.

Secundárias

Não há, necessariamente, uma alteração no equilíbrio muscular e a alteração é gerada por essas diferentes causas.

  • Tumores

    • Osteocondroma (diagnóstico pela radiografia)

    • Elastofibroma (não visualizada na radiografia)

  • Fraturas da escápula, clavícula e arcos costais

  • Hérnia de disco da coluna cervical: mais raro

  • Lesões do manguito rotador

  • Luxação do ombro

  • Lesões SLAP

Quais as consequências da discinesia da escápula?

  • Pode causar dor ao redor da escápula, por contraturas e por síndrome miofascial

  • Perda de força no membro superior acometido, com dificuldade para levantar o braço acima da altura do ombro

  • Pode causar no ombro, por tendinopatias causadas pelo impacto subacromial secundário à queda da escápula

  • Mais raramente pode causar a síndrome do desfiladeiro torácico, que significa uma compressão das estruturas neurovasculares que inervam e irrigam todo o membro superior.

  • Podem causar parestesias (formigamentos) no braço

  • Também podem dar origem à creptacao escapulotorácica, em que há estalos na região superior da escápula (próxima ao pescoço)

Qual é o tratamento da discinesia da escápula (escápula alada)?

Para os desequilíbrios musculares e nos casos precoces de lesões neurológicas, o tratamento preconizado é a reabilitação. Os principais objetivos são o reequilíbrio muscular, fortalecendo os músculos com fraqueza e alongando aqueles com contraturas musculares. A reabilitação deve ser individualizada, portanto, para cada paciente.

Para os casos considerados funcionais, a reabilitação pode promover a resolução completa da discinesia. Para aqueles com lesão neurológica, a reabilitação pode permitir a compensação muscular. Além disso, a maioria das lesões do nervo torácico longo é autolimitada, com duração de 6 a 12 meses. Em alguns casos irreversíveis de lesão neurológica, órteses de posicionamento da escápula podem ser utilizadas.

Como é o tratamento cirúrgico da discinesia da escápula (escápula alada)?

Para os casos de desequilíbrio muscular sem outras causas secundárias não há nenhum tratamento cirúrgico.

Para os casos de lesão neurológica dos nervos torácico longo ou espinal acessório existem cirurgias de transferências musculares nos casos em que a reabilitação falhou após cerca de 12 meses e quando a função do nervo não retornou. As transferências musculares permitem que um músculo normal substitua a função do músculo lesado e são eficazes.

Para os casos de distrofia facioescapuloumeral ou nos casos em que as cirurgias prévias falharam, a opção cirúrgica é a artrodese escapulotoracica.

Para os casos secundários, a doença de base deve ser tratada e as lesões corrigidas para o retorno da função normal da escápula.

Fonte

DR. LUCIANO WOLF FEDRIZZI

CRM/MS 6412 - RQE 4893
Ortopedia e Traumatologia
Cirurgia do Ombro e Cotovelo
Artroscopia do Ombro
Formação:
  • Graduado em Medicina pela Univ. Federal de Mato Grosso do Sul;
  • Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul;
  • Especialização em Cirurgia do Ombro e Cotovelo pela Faculdade de Medicina do ABC;
  • Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia;
  • Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo